domingo, 17 de maio de 2015

   O que você quer fazer agora?



   Uma das coisas que mais me atormentam na vida é pensar que a gente passa a maior parte do nosso tempo fazendo mais coisas que não gosta e que não quer realmente fazer. Meu nível de paciência é muito curto para o "viva um dia de cada vez", por mais que eu saiba que não posso colocar a carroça na frente dos bois e que esses ditados populares são todos terríveis quando se está de saco cheio de só esperar. E se você é um desses, me perdoe por tê-los dito, não pare de ler ainda. Esse texto é um relato de um dos melhores dias da minha vida, que aconteceu a dois anos atrás.
   Em uma dessas manhãs de chuva em que a gente só quer ficar na cama e fazer de conta que não tem aula ou trabalho, eu pensei "E se durante todo o dia de hoje, eu só fizer o que eu quero?". E foi exatamente o que eu fiz. E o mais impressionante é que tudo que eu achava que iria querer fazer num dia como esse, eu não fiz.
   Começando ainda na cama, sentada, com as cobertas nas pernas, me perguntei "O que você quer fazer agora?" e, obviamente, voltei a dormir. Mas vejam só, a ideia de ter um dia inteiro para fazer tudo o que eu quisesse foi tão empolgante, que parecia um desperdício ficar ali. Levantei.
   Sai de casa, e o frio me ajudou a sair de casa vestida do jeito que eu mais gosto e com meu casaco favorito. Peguei um ônibus até o centro de Niterói e fui ouvindo música e filmando algumas coisas ao longo do caminho. Até hoje, quando eu vejo as fotos e vídeos desse dia no meu computador, fico impressionada em como tudo aquilo estava ali o tempo todo e nunca vi.
   Descendo no terminal, andei sem pressa até um café que nunca tinha ido antes e percebi que não fazia ideia do que queria fazer dali pra frente. Eu sabia que do outro lado da baia de Guanabara tinham muitas coisas legais, mas na época eu não sabia chegar até elas e me assustava muito a ideia de ir pro centro do Rio sozinha. Não era um dia pra ficar assustada.
   Andando pela rua achei um sebo que frequento até hoje e sai de lá com dois livros novos. Entrei em lojas de departamento e fiz várias combinações de roupas que nunca voltei pra comprar. Fui até o último andar do que, acho eu, ser o maior prédio de Niterói. Só pra ver a vista da janela mesmo (bem lindo), comprei o segundo café e percebi que aquilo ali parecia um filme. Eu parecia estar em um filme. Um filme. Esse dia foi a primeira vez que fui ao cinema sozinha. Sinceramente não lembro que filme foi, mas foi sem dúvidas uma das melhores coisas que já decidi fazer em toda a vida. Quem me conhece sabe do quanto gosto disso.
   No fim da tarde, saindo da minha sessão, um pouco do sol apareceu no meio do cinza, iluminando a divisa Rio-Niterói e toda a multidão de pessoas que circulam no fim da tarde. Eu não acreditei que o dia já tinha acabado, mas na volta pra casa, vi que tinha sido realmente um dia maravilhoso.
   Esse dia me fez descobrir lugares e criar hábitos que mantenho até hoje. Como se cada vez que eu me perguntava " O que você quer fazer agora?" eu me descobrisse um pouquinho mais. E acho que, talvez, é disso que todos que estão perdidos nesse ciclo diário, tendo que cumprir tarefas que não querem realmente fazer, precise: se descobrir e lembrar que o fato das coisas estarem ruins, não quer dizer que elas são ruins.