quinta-feira, 23 de abril de 2015

  "Não tem mais lugar pra isso"



   Toda vez que eu chego em casa com uma caneca nova, é isso que minha avó diz: Não tem mais lugar pra isso.
    Segundo ela, na minha casa não terão copos ou xícaras comuns para as pessoas, apenas canecas. Se ela soubesse (e acho que sabe) o quanto eu adoro escolher canecas para todos que vem aqui. Elas sentam na mesa, eu abro o armário e fico ali pensando qual combina mais. Também adoro quando fazem isso comigo, ou me deixam escolher qual eu quero. Confesso ficar um pouco decepcionada quando a/o dona/dono da casa abre o armário e pega qualquer uma pra mim.
    Ao longo do tempo fui acumulando canecas em lugares. Hoje tenho uma de toda semana na casa da Carol (amiga, baixista e me abriga nas sextas), tenho uma na casa do Tio Paulo (amigo, produtor e abriga a banda toda nas sextas) e tenho uma na casa do meu pai (amigo, pai e me abriga sempre que eu pedir). Também conheci muita gente ao longo da vida fãs de canecas, presenteei canecas, ganhei canecas e recebo fotos de pessoas com suas canecas. Eis aqui algumas fotos minhas, de amigo e claro, de canecas: 







    A primeira eu amo, uma caneca de "500 days of Summer", da Ariel. A segunda é minha (e assistam aquele filme ali, chama "Apenas o fim", do Mateus Souza, com o Gregório Duvivier), a terceira também é minha, foi um presente da minha mãe. A quarta é o Matheus, a quinta é o Miron e a última é na casa da Carol. No fim, sempre tem lugar pra isso, sim. 

terça-feira, 7 de abril de 2015


                                                 Hipinose


   Eu sou curiosa. Não sei se aprendi com Alice ou se nasci Alice. Se eu visse um coelho falante com um relógio de bolso, também iria atrás. Mas nunca vi. Só vejo pessoas (vivas). Eu vejo as pessoas e as vezes elas me hipnotizam. Alguma vez, caro leitor, já esteve em algum lugar onde viu alguém que brilhava? Alguém que você não conseguia parar de olhar? Alguém diferente, que parecia uma figurinha colada em um cenário? Eu costumo me deparar com essas pessoas vez ou outra. E não sei parar de olhar pra elas, olhar as manias delas.
   Não faço questão de nomes, mas faço muita questão de ideias. Tudo o que eu desejo ali é que aquela pessoa me conte passado, presente e futuro. As vezes acontece, as vezes eu continuo em hipinose, criando meu próprio molde daquela pessoa.  Aqui estão alguns dos últimos casos de hipnose:

A fada brava: Eu estava esperando por uma aula de linguagem de programação na faculdade, no fim de tarde. A sala estava vazia e eu estava pintando o meu livro de colorir (Floresta Encantada). E então chegou essa garota, meio loira, com all star e jeans e disse "Por que você fica ai sozinha?". Pensei em responder que estava ali sozinha porque não tinha ninguém na sala, mas não respondi nada. E ela disse "Senta aqui com a gente". Eu não sabia quem era "a gente", mas sentei. Ela parecia uma fada. Agitada, as vezes ficava imóvel olhando pro meu rosto enquanto eu falava, outras vezes os olhos não paravam de se mexer e ela observava tudo muito rápido. O celular dela estava ruim e os avós não paravam de ligar. Ela estava brava, mas não de verdade. Mesmo que fosse de verdade, não parecia. Porque ela só falava rindo. Logo depois eu descobri que "a gente" era um grupinho daquela turma do qual ela fazia parte e todos que chegavam ouviam um "Essa é a Julia" da fada brava.

O rapaz que fumava não um, como dois cigarros: As típicas festas de quem tem entre 19 e 25 anos. Uma casa vazia, cerveja, uns amigos, cigarros. Cigarros. Havia esse rapaz que eu já conhecia, mas conheci de novo nessa noite. Porque ele já não era o mesmo do colegial e tinha cortado o cabelo. E ele ria e todos riam dele. E todo mundo escutava a mesma música, mas ele usou os fones. E todos preferiam a luz apagada, mas ele acendia do nada, sem avisar, machucando nossos olhos. E no fim da noite, quando todos já estavam jogados na sala e a cerveja já tinha acabado, ele resolveu fumar dois cigarros de uma vez só. Lembrei, automaticamente, de alguma cena de filme onde uma garota loira fumava quatro. E enquanto ele tentava acender os dois cigarros eu só pensada "Por favor, coloque mais dois na boca". Ele não colocou. E nem conseguiu acender ali, porque o último fósforo alguém assoprou (o que me fez rir).

O que sabia enfeitar a bicicleta: Quem já esteve na Universidade Federal de Niterói sabe que diversidade é, definitivamente, algo que se encontra por lá. Então eu estava no campus com uma amiga, esperando outra pessoa, tomando um chá. Estava chovendo, aquela garoa fininha e blin blin, um rapaz de bicicleta. Bicicleta de cestinha. Cestinha enrolada com flores brancas. Era meio ruivo, bermuda, bolsa de couro e pedalava sorrindo. Passou uma vez, passou duas vezes. Eu pensei em convida-lo pra mesa na terceira vez que ele passasse, mas então eu deixaria para a quarta vez. E na quarta vez, eu deixaria para a quinta.

domingo, 5 de abril de 2015

                                      Beleza é geometria



   Foi essa a frase que li em alguma página de “Morte Súbita”, de J. K. Rolling. E assim que li, passei um bom tempo pensando nisso, já que finalmente tinha encontrado a definição perfeita para o que eu já tinha como um conceito próprio, mas que nunca consegui definir de forma simples. Como sempre.

   Não é realmente disso que se trata a beleza? O conjunto das formas, o encaixe de tudo, a geometria? Não tem absolutamente nada a ver com os padrões que em algum momento, alguém disse que era o certo. E alguém disse? Eu fico pensando onde foi que tudo começou. Das pinturas de mulheres mais corpulentas até as absurdamente magras dos anos 20 e até hoje, onde tudo é definido milimetricamente. Quantos gominhos, quantos centímetros aqui e ali e cada grama perdida.
 
   Então, aparentemente, tudo é uma questão de tempo. Do tempo em que vivemos. E eu me pergunto o que aconteceria se tivéssemos nossa mente apagada quanto a isso, se de uma hora pra outra todo mundo tratasse aquele pneuzinho, aquela orelha de dumbo, o nariz de batata, as pernas de graveto e o sapato número 40 como algo normal.
   
   Não digo isso de uma forma como: “Estou pesando 140 kg, vou me aceitar e ser assim”. Acredito que o saudável é o peso ideal, que o se modelar e se vestir ao seu gosto é a moda e que o se pintar e se rabiscar é a melhor arte de todas.

                            Minha relação com o cinema


 
   O ano: 2013. O dia, claro que eu não me lembro, mas me lembro perfeitamente de pensar “Então, esse tempo todo, era você”. E a sétima arte sorriu pra mim como quem diz “Tolinha, como você nunca me notou aqui?”.
 
   Durante toda a minha vida, conheci apenas uma pessoa que diz não gostar de filmes: minha avó. Mantive por um bom tempo o desejo de ter um “sim” como resposta a todos os convites que fiz para um filme na sessão da tarde ou na segunda à noite, depois da novela. O que descobri mais tarde é que teria obtido essa resposta caso algum filme do Chaplin tivesse passado na Rede Globo de Televisão. Minha avó adora o Chaplin. E ama pipoca. Logo, tenho a certeza de que não existe, no mundo, alguém que não goste de filmes.
 
   O cinema mudou muito pra mim desde as fitas VHS da Disney (que ainda tenho) e os filmes da  Rede Globo. Nunca estudei ou fiz curso de cinema. O pouco que eu sei vem das revistas da quinzena, dos blogs e vlogs da internet, das entrevistas com diretores e atores, de longas pesquisas e de uma palestra que assisti na Universidade Federal de Niterói depois de matar uma aula. E é claro que a experiência nessa palestra foi, até o momento, o mais esclarecedor. Ter contato e poder debater a visão de cada cena com pessoas diferentes é definitivamente maravilhoso.
 
   É quase impossível, pra mim, sair da sala do cinema do mesmo jeito que entrei. Costumo pegar as sessões de dias de semana à tarde, geralmente com alguns casais de idosos e adolescentes do colegial. Criei esse habito de ir sozinha e passei a realmente gostar. Não tem nada de esquisito, como já ouvi tantas vezes. Ficar ali observando tudo, quietinha, escutar algumas conversas bobas (O clássico “onde é nosso lugar?” “ué, não sei” e ficam tentando enxergar no escuro) e entrar no filme como se logo depois eu não tivesse que sair correndo até o terminal rodoviário.
 
   Não existe um “Lá fora”. E fico até o fim, até alguns nomes aparecerem, uma ceninha a mais, as letrinhas subirem, a segunda música começar, mais letrinhas e a tela ficar branca enquanto uma música aleatória do cinema começa a tocar (quase sempre Marcelo Camelo) enquanto a moça entra pra limpar.

 
   É claro que eu volto pra casa ainda pensando na história, ouvindo as músicas do filme. E quase sempre é assim, independente de onde eu veja o filme ou de que gênero ele seja. Me sinto influenciada por personagens, repito falas por ai. E logo depois eu descubro que não apenas quero conhecer essas histórias, mas também contar a de tantas pessoas por ai que ainda podem ter suas histórias contadas. Quero contar as histórias delas.